terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Ópio Por Simone Bertrand & Mento Leão

E por vezes a cadeira permaneceu vazia, a cama permaneceu vazia, minha vida assim também permaneceu por mais tempo que nem mesmo eu sei precisar o quanto. Mas ele sempre volta ao mesmo lugar, assim como o criminoso que não resiste a mórbida sensação de relembrar os momentos finais de sua vítima voltando ao local de seu feito. Ele, também não resiste, também se deixa levar pela inebriante sensação de prazer de encontrar meus braços abertos esperando seu frágil coração e sua alma em chamas... Rende-se fácil aos encantos e ao ópio de meus olhos, de meu sexo, de minhas canções... Ele sabe que no final tudo volta ao mesmo lugar e que não há como escapar do labirinto, de minhas curvas sinuosas, das palavras tortas, retas ou levianas. E o suor sagrado é bem melhor que as lágrimas quando a dor bate a porta. Eu sou porto, sou norte, sou o fim e o começo... E quando ele pensar em alguém, pensará em mim! Ele sai a caça... Voa alto em busca da melhor presa, do melhor momento... Ele apenas busca se sentir bem, mas ele sabe quem por fim o torna melhor, quem por fim o edifica, o constrói, o alimenta de verdade. E para aqueles que acham que isso não se deve dizer ou mesmo pensar...Vou avisando: Apenas quem vive completamente entregue sabe do que estou falando. Não preciso de julgamento, não preciso de comiseração, preciso apenas do meu ópio... Assim como ele precisa também!


Mesmo que minha alma um dia encontrasse a paz e meu frágil coração pertencesse a luz, lutasse em vão, mesmo que meus amigos, que agora são apenas fotografias amareladas se tornassem imprescindíveis novamente... Mesmo assim eu ainda voltaria para teus braços... ainda ficaria inebriado... Que a noite venha com suas luzes frias... Que a dor volte depressa, pois tenho para aonde ir... Tenho o porto, tenho o norte e todas essas vozes cessarão... Não há mais o que se possa dizer que já não tenha sido dito... As esquinas me esperam... mais uma vez... De novo... A noite todas as cidades são iguais, toda dor é passageira e toda alma é sorrateira.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Absurdo Por Simone Bertrand

Corro diariamente para a minha morte, com alegria e esperança de que  algo belo e desconcertante aconteça e impeça o impossível de acontecer. Corro todos os dias ao mesmo trabalho sinuosamente igual, dia após dia... Normal, lutando para sobreviver. E quando alguém percebe, por um breve momento essa sandice, esse absurdo, dou de ombros e me afasto rapidamente. Não tenho tempo a perder, tenho tanto a fazer... Mas para que mesmo? Essa vida é totalmente fora de propósito... Acho que ficarei agarrada aos pés da cruz... Assim terei algum tipo de alento... Terei? 
Não preciso fazer isso... Mas para que servem os segredos, se não para serem revelados? Para que serve a vida, se não para ser vivida? E depois, bem, depois quem sair por último apague a luz. Quem você acha que vai ficar? Quem você acha que ainda não traiu a alguém ou a si mesmo? E o que muda? Nada! Ainda estaremos fugindo desesperadamente para o fim. E o absurdo é que eu, ele e mesmo você ainda estaremos indo para o mesmo lugar, acreditando nas mesmas idéias que nos fazem aceitar o absurdo, de viver, sempre repetindo a velha ladainha, já amarelada pelo tempo, desgastada, oxidada pelo vento. Queria que pelo menos as palavras continuassem amigas... Mas isso é outra bobagem, palavras não são amigas, simplesmente elas roubam de ti a alegria e a esperança de que algo belo e desconcertante aconteça e impeça o impossível de acontecer.


E no fim, tudo é como uma bela canção... Trilha sonora do desperdício, da corrida absurda junto ao precipício...